sexta-feira, 21 de março de 2008

Porcas no Cio


Porcas quando entram no cio, empinam as orelhas, tesas, apontando pro alto, penso que as orelhas sejam seu símbolo fálico... Ficam indóceis, renegam a comida, ranzinzas e impacientes e andam com o focinho inclinado pra baixo numa atitude típica de desolamento. Algumas pulam a cerca, ops, nada a ver com a velha expressão civilizada de “pular a cerca”, elas pulam literalmente a cerca do chiqueiro e vão extravasar nos arredores a sua indocilidade.

Uma mulher pode ficar no cio por meses _ basta ter amor e o sexo ser sensacional...

Um homem, apenas um único homem é capaz de destruir o cio de uma mulher. Desconfio que até mesmo o de uma porca ele seja capaz de destruir...

Uma porca no cio se torna agressiva, voluntariosa, decidida a tudo fazer pra ter seu porco do lado, pra sentir suas carnes fartas e sua gordura benfazeja até saciar sua libido.

Porcas no cio, sentam no gramado à noite de olhos pra lua... e suspiram...

Porcas no cio sobem pro terraço do chiqueiro pra sentir a noite e sua calidez...

Porcas no cio pegam na caneta e escrevem em qualquer papel... apenas pra transbordar.

Porcas no cio têm sonhos estranhos, indefiníveis que quando acordam, nada de nada lembram...

Porcas no cio saem pra noite, apenas pra sentir a fresca e se dizerem felizes

Ah, porcas no cio são elegantes, sensuais, formosas e voluptuosas... porcas no cio me enternecem...

Uma porca no cio é a escória para muitos homens.

Ninhos de Amor


Tá, tudo bem, no final do ano passado, foram as borboletas que invadiram minha casa copulando e se locupletando de todos os cômodos!

E agora, é a vez dos sabiás! Estão espalhados pelo jardim, pátio, pitangueiras e cerejeiras! E, para minha felicidade, construíram um ninho de amor; a fêmea está lá, dia e noite chocando seus ovinhos. Pior, tem mais outro ninho! Mas eu e o Marcos ainda não conseguimos localizá-lo...

Beleza! Nestes quinze anos em que moro aqui, nunca nenhum passarinho construiu seu ninho... e agora vêm estes, bem em frente ao janelão de vidro da cozinha, se assentarem como posseiros do MST! Estão lá, instalados entre os galhos da videira e os do ipê roxo. Sejam bem-vindos.

Pelo Feng Shui, quando eles vêm, são “bênçãos”. Sempre que se aproximam de nós ou de nossas casas são para trazer alegrias e dias auspiciosos.

Que assim seja!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Tropel





Mal o dia ressurgira da noite tempestuosa, deitada de bruços, eu ainda sentia a areia no lado direito do rosto, areia morna, áspera, os olhos ainda fechados, e jazia exangue da noite turbada. Minha embarcação, outrora tão sólida apesar dos anos, soçobrara na escuridão da tormenta.

Lembrava apenas do inferno que fora a noite passada. Estaria morta? Não o sol já ardia na pele. Estava viva com certeza. Só lembrava de como me debatera; minhas mãos sangravam no timão, lutando contra as ondas; algumas mais fortes me jogavam , uma jovem maruja, de encontro à balaustrada da embarcação. Ondas fustigantes, gélidas pela noite, furiosas depois de uma semana de ressaca marítima pareciam impiedosas. Estava realmente tudo muito calmo para um mar de agosto. Inevitável a tormenta. Por um momento eu fora jogada contra a proa do barco, a dor fulminante do lado das costelas parecia-me ter partido ao meio...arrastei-me pelo tombadilho escuro e escorregadio, minhas mãos tatearam um cabo de aço, levantei-me com dificuldade, sentia o gosto de sangue na boca misturado à água da chuva, não me importei, e mais outra onda jogou-me longe assim quem me pus em pé.

Pus-me em pé e tentei abrir a portinhola do porão. Estava emperrada. Tinha vontade de chorar, mas me contive. Tateando no escuro, tentei encontrar o arpão que deveria estar jogado por ali. Inútil encontrá-lo. Com ele, poderia abrir a portinhola. E mais outra onda gigantesca me joga agora contra a cabine da embarcação. Tonta, tento me levantar. Estava cansada. Por que lutar? Por quê? Seria fácil demais não lutar; deixar o corpo escorregar devagarinho até o mar ou esperar que o barco virasse de vez...e tudo estaria acabado! Os braços cessariam de doer; aquele frio da água me cortando o coração, não sentiria mais o sangue escorrendo...

Mas meus pensamentos se voltavam à terra firme. Eu tinha tanto a fazer ainda. Não seria uma tempestade de nada que me faria desistir de seguir minha rota.

O barco não tinha mais controle. Ele era jogado violentamente qual folha seca num redemoinho. E eu ia junto a cada movimento brusco de um lado para outro; tentava me manter segura no tombadilho, mas meus braços já não tinham mais forças; minhas mãos estavam cansadas e por demais doridas; o peito arfava e mais outra onda me jogava para longe! Sabia que meu fim estava próximo. Aquele inferno não poderia durar eternamente. Uma hora teria que acabar. Agora sentia-me incapaz de racionalizar qualquer ação de imediato. Era jogada à mercê do mar; apenas um joguete; alguém brincando de deus comigo.

E assim fora toda a noite, açoitada pelos ventos, as ondas gigantescas, o frio insuportável...uma eternidade aquela noite.

Agora estava eu ali, sentindo o cálido sol em minha pele, a roupa ainda molhada grudada no corpo, fui abrindo devagarinho os olhos, estava com medo de abri-los, mas fui abrindo, os braços pesavam doloridos e lanhados, mal podia mexê-los; as pernas chumbadas no solo, nem as sentia...finalmente arregalei apenas um olho, pois o outro ainda estava enterrado, meio encoberto...e vi que estava viva ! Sobrevivera. Virei a cabeça. Conseguira mexer o pescoço. Sinal que a coluna estava intacta. Só as pernas continuavam imóveis. Passados alguns segundos, mexo os dedos dos pés, espreguiço-os, dobro um joelho, sinto calor nas pernas, e empurro o lençol rosa de algodão macio para os pés da cama...

Viro-me de costas, e olho o teto, o céu lilás cheio de estrelas coladas ainda na semana passada.

Estou viva. Ainda!

O Mega Escroto




Ele tinha aquela mania nauseabunda de coçar o saco e depois cheirar as pontas dos dedos; mais precisamente as unhas grandes, usadas meticulosamente para tocar violão nas rodas de baladas. Um dia ela reclamou dessa mania nojenta, mas ele sempre tornava a fazê-lo quando achava que ela não estava olhando. Porém, ela sempre via com o rabo dos olhos e ficava com vergonha de repetir a dose de reclamação.Ela não sabia que saco fedia, mas ele esclareceu: ele tinha micose na região escrotal.E, assim, foram se somando outras tantas pequenas misérias.Ela não sabia como agüentara cinco meses aquela criatura e os seus acessos de grandeza, estes com certeza para compensar a escassez peniana (o que nem de longe seria um defeito, quando bem usado), mas nem quanto ao seu uso ele possuía algum dom que pudesse compensar.Sua limitação peniana era tão proeminente que se tornava difícil manter o pênis no lugar adequado; ele escorregava e o seu excesso de pele ajudava a dificultar mais ainda a penetração. Por várias vezes, ela tivera a leve sensação de estar ao lado de uma mulher na cama, ainda mais com aquele cabelo comprido e o indefectível rabo-de-cavalo.A configuração escrotal também não deixava de ser chocante! Ela descreve magistralmente que ambos pareciam ser uma mini-pizza e do meio da banha surgia aquele botão incipiente chamado pênis!Ela, uma morena linda, alta, com uma encaracolada cabeleira negra, deveria ser um contraste gritante com aquela figurinha esquálida "em todos os sentidos".Fê gosta de relembrar dos dentes da figurinha - onde não havia um espaço, havia um podre! Bem, o bafo nem precisa descrever!E foi só depois de algumas semanas que ela descobriu que o impecável apartamento da criatura, na verdade, era de sua irmã. Que dele não havia nem um radinho de pilha daqueles de camelô mesmo!Hilária mesmo foi a história da "Divina Comédia"! Ele comentava tudo como se tivesse lido todas as obras de Dante, Dostoievski, Ibsen, até que um dia ela descobriu que o único livro que ele lera fora uma obra umbandista emprestada de um parente!!!Aí, eu acho que finalmente ela caiu do cavalo! E resolveu apear!Ah, ia esquecendo o lado "místico" da criatura! Era seu costume tecer comentários aleatórios, instigantes que faziam o pessoal da "roda de baladas" imaginar que estavam à frente de um novo guru do segundo milênio. O que ele dizia fazia a gente matutar nas profundezas do inconsciente...Bem, uma coisa devemos considerar - ele tinha classe pra enganar tanta gente. Ou memória! Juro que eu não tenho uma memória tão privilegiada a ponto de ouvir uma frase de efeito de algum perito e depois repeti-la enfaticamente, deixando todos boquiabertos!Logo de início, o Mega contou de suas viagens a Portugal e das cinco vezes que fora a Cuba. Como ela adorava viajar, ela inquiriu detalhadamente sobre Portugal, e é claro, ele se perdeu, e ela sacou, e ele desviou remendando: conhecera Portugal em "outras vidas"!Como ele tava sempre "duro" ( de grana , é óbvio!), ele inventava assaltos. Os impiedosos ladrões levavam tudo – cartões, cheques...e a grana!" Um dia, ela perguntou: "Mas e o violão? Por que não o levaram???- É imantado! Respondeu ele com aquele olhar misterioso conhecedor dos truques mágicos...Fora marcado um show pra ele. O Mega programou uma megaprodução - 400 incensos seriam distribuídos na porta do teatro e 400 velas iluminariam a noite. Celestial, não?Compareceram nove pessoas, sendo que oito eram da família!Mas a parte mais hilariante eram as visões que ele tinha na madrugada! Costumava contar que via espíritos guerreiros à volta da cama e o embate ocorria inevitavelmente com estes personagens. E ele descrevia fielmente estas lutas: quando ele estava perdendo a batalha para estes seres fantasmagóricos,surgia uma outra figura benemérita para salvá-lo - o Cacique Beira-Mar!Quando o conheci num churrasco na cobertura do apê da Fê (até que rimou!),achei uma coisinha estranha nele - ele não olhava nos olhos da gente!A segunda vez que eu o vi foi lá na Lancheria do Parque; eu estava com meu amigo Stefan pra curtir uma ceva geladinha. Fiquei na dúvida se o cumprimentava ou não. Optei pelo não. Preferi o silêncio inteligente do meu amigo.Acertei.PS: Se você encontrar um escroto ambulante nas ruas da Cidade-Baixa, caia fora! Ele é envolvente, boníssimo e toca violão.Mas, mas amiga, caia fora