sábado, 5 de julho de 2008

Honey Come Back




Ela tinha dessas coisas, de escolher sem saber por que, de sonhar sem entender a finalidade, de falar palavras soltas e mais tarde acontecerem ...Para alguns ela podia parecer maluca, mas na sua maluquice ela encontrava o caminho. Difícil os outros entenderem. Ela quase nunca teve muitas dúvidas ou indecisões. Bastava apenas sentar, mergulhar na imensidão do caos e a luz aparecia, clareando o negro; e se na escuridão ela permanecia, logo em sonhos a estrada se abria!Para que, então, se preocupar?Pena que ela tenha aprendido isto tão tarde, depois de tantos anos; depois de tantas noites insones, de tanto porre; depois de tantas unhas roídas... Ah, se ela soubesse isto aos dezoito, aos vinte! Por que ela não tivera uma mãe que lhe mostrasse isto! E se tivesse tido, ela teria lhe seguido as palavras? Jovens são tão impacientes...
Quando ela esperava seu primeiro filho, ainda não tinha o nome para o bebê, e ansiosa pensava, pensava e a nenhuma conclusão ela chegava.Foi então que ela sonhou que seu filho nascia e se chamava "Tuim"! Imagina se isso lá é nome de criança, pensava ela. Mas o nome era muito estranho mesmo. Não tivera dúvidas, correra ao dicionário _ Tuim existia! Ela nunca ouvira falar! Era o nome de um pássaro!Algumas espécies vivem mais ao norte do Brasil e nas Guianas; seu habitat são as florestas; se alimentam de sementes de girassóis, açafrão, cereais, nozes, verduras, tâmara e figo. Todo verde e brilhante na face.Os Tuins deslocam-se velozmente. A melhor defesa que possuem é ficarem imóveis e calados, fixando com os olhos o perigo que supõe existir. Vivem rigorosamente aos casais que, ao que se sabe, permanecem unidos por toda a vida. Criam seus filhotes em ninhos velhos de joão-de-barro, em ocos cupinzeiros. O número de filhotes pode ser estimado por observação do casal voando, que já foi observado de até 8 filhotes. Os filhotes separam dos pais apenas quando estes começam de novo a cruzar. Medem 12 cm, seu peso é de apenas 26 g. É o menor psitacídeo do Brasil. O macho tem grande área azul na asa e no baixo dorso; a fêmea é totalmente verde, sendo amarelada na cabeça. O tuim passa gritando felicidade mostrando.
Qualquer semelhança era mera coincidência...O Tuim trouxera tanta, mas tanta felicidade, que ela decidira repetir a dose! Ela sempre achara um casal de filhos perfeito! Mesmo porque o Tuim não sabe viver sozinho como já se viu. Quisera então programar uma femeazinha para o Tuim...que se concretizou só dez meses depois!De novo, sem um nome definido, tinha que ser especial, mulher sempre é um ser especial, e ela tinha certeza que seria menina! Naquela época, não havia essas novidades de DNA, ultrassom, filho sempre era uma surpresa na hora de nascer!E a barriga crescia, cada vez mais, e nada de nome! Ela já andava até com insônia, ela que sempre dormia cedo, agora tinha insônia! E comia, e engordava, e nada de nome para a pobre criança! Nem em sonho aparecia uma dica !E foi numa sessão-madrugadão, ela devorando alguma coisa no sofá, vendo um filme tenebroso - "A Filha do Diabo" _ nunca mais vira esse filme depois_ que a protagonista tinha um nome lindo, sonoro, mavioso, caiu como uma ficha! Era estranho, porque ninguém tinha esse nome. A madrinha dela achou esquisito, o pai enrrugou a testa, os sogros acharam que era mais uma maluquice, já estavam acostumados... imagina, ainda bem que não contara a história do Tuim! Com certeza a internariam!Seria aquele nome. Nome de Princesa. Como se comprovou mais tarde, quando uma professorinha muito simples casou com um Príncipe na Inglaterra e se tornou carismática até mesmo na morte.
E a Princesa da casa nasceu. Era o alvo de todos e todas as atenções!Não gostava de dormir sozinha como o Tuim. Pro Tuim, a mãe ainda meio atabalhoada com o primeiro filho, ligava um radinho ridículo azul de pilha e ele dormia! Ela não; gostava de embalo. De penumbra. E de blues. A mãe satisfazia todas as suas vontades.Depois que Tuim dormia, ela apagava as luzes, pegava um LP de Ray Conniff, escolhia uma faixa _ "Honey Come Back" e ela dormia imediatamente. Mesmo depois no sono, ela continuava embalando-a até terminar a música. A mãe gostava. O bebê ficou viciado! Só dormia com aquela música. Um dia a mãe resolveu trocar o repertório e sacou da estante uma lentinha do maluco-beleza, ela nos seus dois meses de idade apenas, esperneou, e resmungou, nem pensar, maluco-beleza não!!! Lá foi a mãe pegar o velho e gasto e arranhado "Honey..." again!
Passaram-se muitos anos e a mãe nunca mais ouviu aquela música, não lembrava mais nem quem cantava, nem esquecera a doçura daqueles momentos; não lembrava se era Glenn Miller, Ray Conniff ou Paul Muriat...até ela encontrá-la no Kazaa!A mãe da Princesa não sabe até hoje o que diz a letra...Mas deve ter tudo a ver!
17.08.03!

Nenhum comentário: