sexta-feira, 21 de novembro de 2008

As Negras


Amo as Negras. Sou quase loira de olhos verdes, mas amo as Negras.



Há muito tempo elas me atraem. Desde quando alguma delas sentava ao meu lado no ônibus ou na lotação; não importava a idade, o físico, gorducha ou magra, jovem ou idosa, maltrapilha ou não... algo me atraía. Nem bastava olhar, mas sentir aquele ímã puxando...e eu ia caindo, de soslaio, escorregando devagarinho, até sentir o calor do corpo ao lado, e ali eu me quedava, usufruindo, curtindo quietinha aquela energia...


Isso acontecia lá pelos meus 13, 20, 30 anos...por aí.


Foi depois disso que eu descobri as Negras com todo o seu potencial, sofrimento, luta, garra, paixão, sensualidade...


O primeiro amor foi Sarah. Sarah de carnes fartas, lábios grossos e nariz batatudo; Sarah era violenta, forte na expressão; seu peito a dor gostosa que deixava transparecer na voz. Mas foi escutando “If You Went Away” que a sua doçura se derramava. Ou em “Bridges” num dueto com Milton Nascimento; depois vieram Alberta, Tina, Nina Simone, Ella, Bilie... e me afundei gostoso nos seus regaços, qual neta que descobre a fofura do corpo caliente e macio da avó...


A negras velhas têm uma doçura inexplicável que emana de suas gorduras, de suas curvas abundantes, de seu olhar amoroso, talvez cinzelado de anos ou séculos de dores...


Se eu tivesse o dom de um Renoir, pintaria apenas gordas negras; ou então, à sombra de um Degas, trocaria a fluidez das bailarinas com certeza..


Mas acho que nenhuma negra me fez tanto chorar como aquela modelo somaliana, hoje radicada nos EUA, que fez de sua dor a luta de muitas mulheres orientais – a castração a que são submetidas desde os 10 anos de idade....


04/04/2000 .

Nenhum comentário: