domingo, 22 de novembro de 2009

A Despedida Perfeita






















Seria sua última noite com seus dois maiores amigos. Pra não fugir da rotina, era mais uma das centenas de noites cálidas e frescas em terras do Nordeste.

Haviam combinado de se encontarem na Casa dos Morcegos no sábado à noite. Ela chegara primeiro e ficara na praça, sentada, esperando eles.

Assim que chegaram, foram todos pra casa; serviram a janta, pegaram as bebidas, uísque, cerveja, vinho e refri. Beberam e comeram todos com uma fome canina. Eles sempre saem da Facul com essa fome... O dono da casa botou o som na área; estendeu as redes, e foi pondo a mesa. Ele sempre faz isso: adora receber os amigos na casa de praia; é o maior prazer dele; acho que se sente feliz, aconchegado...Também este amigo é o tapioqueiro mais talentoso que conheço! Não dá pra recusar as tapiocas dele...no café da manhã....hummm... não tem coisa melhor!

Enfim, naquela última noite, comemos, dançamos forró, bebemos demais... éramos três criaturas completamente tortas! Se há uma coisa que todo mundo faz no Nordeste é beber!

Mas foi, lá pela meia-noite, que fizemos o melhor programa de despedida! Resolvemos caminhar pela praia ... não sei quem deu a idéia, eu não fui, pois não tinha a mínima condição de caminhar. Mas fomos, ainda levando umas latinhas de cerveja pra se abastecer no caminho. Iríamos caminhar e ver a Lua por sobre o mar. O céu estava salpicado de estrelas, nunca vira tantas....Caminhamos muito, dizendo bobagens, rindo, e aquele papo que só os bebuns sabem fazer...e riso, muito riso, riso frouxo, do nada, sem causa e sem efeito, apenas três toscos cambaleantes ...Ficávamos tentando descobrir no céu quem era quem naquela imensidão de luzes...pareciam tão baixas...no Sul não é nem parecido; no Sul, as estrelas são distantes. E nós ali, quem éramos? Apenas três grãos de areia perdidos numa noite escura estrelada...filosofando à toa, rindo à beça, conjeturando que ninguém acreditaria que dois homens e uma mulher podem ser tão absolutamente amigos, infinitamente amigos...


Cidade pequena é um marasmo. E toda fumaça já é o suficiente pra fazer uma fogueira de conjeturas.

Já morei em cidades assim e isso sempre aconteceu. E aqui nessa prainha não é diferente. Por mais que a gente jure, o povo acha! Ah, deixa achar! Consciência limpa é outra coisa; é tão bom! E a gente ri, ri muito do que os outros imaginam...

Penso que devemos ter caminhado um quilômetro ou mais. A praia é escura como toda praia de cidadezinha minúscula do Nordeste. A única luz que bruxuleava toscamente era a da Lua. Éramos vultos estranhos andando pela madrugada. Voltamos. Rindo mais ainda do que nunca de bobagens soltas à brisa. Voltamos de mãos dadas, as pernas cambaleantes, tropeçando nos cômoros de areia. Sabíamos os três que era nossa última noite, nosso último encontro de bons amigos. Sim, claro, como todos amigos, já quebramos pau, já ficamos emburrados, já discutimos, mas qual amigo que não fez isso? Nós fizemos!

Chegamos em casa cansadíssimos, um banho pra tirar a areia e uma cama enfim! Eu me atirei no meu quarto favorito, o dono da casa no dele e o outro amigo na sala...este é sempre o último a dormir! Fica no computer trabalhando. Não sei como bebe e depois consegue ir trabalhar! Ele sempre parece estar velando o sono dos amigos...fecha a casa, bebe uma coca, chama o gato, tranca os portões e vai dormir na rede da sala.

No outro dia, ela partiu. Mas volta, com certeza!

5/10/2009

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